quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Allan Sieber

Por André Cintra
Foto: buldozer.blogspot.com




Há muitas maneiras de se chegar ao humor. Pode ser pelas vias mais ortodoxas, como por situações constrangedoras que se tornam engraçadas, ou por algo inesperado que de repente aconteceu, às vezes com um desfecho inesperado... Enfim, essas e muitas outras. Allan Sieber faz diferente. Ele chega ao humor pelo mau humor. Não que o humor dele seja de má qualidade, mas é pelo mau humor, pelo ranzismo, que ele é capaz de chegar ao próprio humor!

Você perceberá na entrevista que não é só em suas tiras com seu charme rascunhado que ele exibe o mau humor. Esta é uma entrevista feita por e-mail muito mal humorada. E por isso mesmo, quem diria?, muito engraçada!

El Cabriton y Amigos: Allan, é verdade que você não sabe desenhar?

Allan Sieber: Só um cego não enxerga isso.

ECYA: Qual é o sentimento de quando você tem uma boa ideia? Chega a ser comparável a um orgasmo?

Allan: "Alguém já pensou isso antes" é a primeira coisa que me ocorre.

ECYA: Em que horas as melhores ideias surgem?

Allan: Isso não existe. Nem melhores idéias nem melhores horas.

ECYA: Você tem uma rotina de trabalho?

Allan: Tenho. E é chata.

ECYA: Você trabalha em casa?

Allan: Não. Isso no meu caso não dá certo.

ECYA: Como você costuma estar vestido na hora de desenhar uma tirinha?

Allan: Impecável, como sempre.

ECYA: Você pensa duas vezes antes de colocar um palavrão nas suas tirinhas?

Allan: Não.

ECYA: Vejo que os cartunistas costumam elogiar uns aos outros. Essa união é verdadeira?

Allan: Não.

ECYA: Você conhece alguma atriz pornô?

Allan: Sim.

ECYA: Você conhece o Pereio, não é? Como surgiu essa amizade?

Allan: Conheci o Mestre quando o convidei para fazer a voz dele mesmo no curta "Os Idiotas Mesmo".

ECYA: O que mais o irrita?

Allan: Esse tipo de entrevista me irrita um pouco.

ECYA: O Oséas vai ser efetivado?

Allan: Não.

ECYA: Quem melhor interpretaria os The Mommy´s Boys no cinema?

Allan: Moleques gays atores é o que não falta no nosso belo país.

ECYA: Quais as suas maiores críticas para a juventude atual?

Allan: Bem, eles são jovens...

ECYA: E para os idosos?

Allan: Podem contar com meu apoio.

ECYA: Você poderia me dizer, por favor, que horas são?

Allan: 14:10

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Marcelo, karateca e professor (e vice-versa)


Se o futuro das crianças está na mão dos professores, o futuro dos aolescentes na faculdade está na mão dos professores de cursinho. São eles que ensinam as melhores paródias, contam as melhores piadas e que, às vezes, quando sobra algum tempo entre um risada e outra, ensinam o conteúdo necessário para passar no vestibular.

Por isso, resolvemos entrevistar por MSN Marcelo da Silva, 33 anos, um professor de geografia em um cursinho de Florianópolis. Ele entrou na geografia por uma estrada bastante peculiar, o karatê. E hoje, quando canta suas paródias que colocam seus alunos na faculdade, não se arrepende: fez a escolha certa.

El Cabriton y Amigos: Marcelo, estudar na véspera da prova dá certo, né?

Marcelo da Silva: Sempre falo que o aluno deve ter uma rotina de estudos, ao final de cada dia de aula, revisar o que o professor explicou. Mas hoje não são raros os alunos que estudam na semana de prova, Alguns, nem isso.

ECYA: Você foi um bom aluno?

Marcelo: Regular. Sempre estudei em escola pública, com poucos professores comprometidos.

ECYA: Você acha que estudar em escola pública lhe foi vantajoso?

Marcelo: Por um lado sim, pois tive vários professores não comprometidos, que não davam aula por achar que ganham pouco. Isso me serviu de exemplo, dou aula não pelo salário apenas, faço tudo diferente do que eles faziam. Entro na sala com muita vontade de ensinar.

ECYA: E os alunos? Eles entram com muita vontade de aprender?

Marcelo: No meu ponto de vista, depende muito do professor. Hoje, o aluno recebe muita informação, tudo ao mesmo tempo – assiste TV, vê Orkut, atende celular... Se o professor ficar passando a informação de uma forma monótona, não há como. Cada professor deve criar um diferencial

ECYA: E qual é o seu diferencial?

Marcelo: Sou alegre, faço as paródias, e faço os alunos pensarem.

ECYA: Posso deduzir pelo que você está dizendo, que os professores mais ortodoxos estão perdendo o bonde? Ou seja, que os alunos não aprendem mais do jeito antigo?

Marcelo: Aprendem, sim. Porém, eles preferem professores que falem com o linguajar deles. Não pode haver excesso, apelidos que ofendam, mas brincadeiras na hora certa fazem bem ao clima da aula. Nada exagerado. Tem que haver o respeito. Isso sempre o professor deve exigir.

ECYA: Por que você é professor de geografia e não de biologia?

Marcelo: Bem, sou professor de karatê também. E fui dar aula de karatê em uma cidade a cerca de 150 quilômetros de Florianópolis, num colégio. Estava dando aula e um professor de geografia faltou. O diretor pediu para substituí-lo e fui. Adorei. Voltei a Floripa e fiz o vestibular.

ECYA: Hoje em dia você ainda dá aula de karatê?

Marcelo: Sim. Em um projeto social para crianças bem carentes.

ECYA: Você dá aula em escola pública ou particular?

Marcelo: Hoje somente em particulares. O salário que o governo paga é impossível sobreviver. Isso me revolta.

ECYA: Qual é a diferença salarial?

Marcelo: Um professor de cursinho ganha de três a seis mil reais. No Estado, aqui, na faixa de mil. Aí o professor pega muita aula para poder ganhar um pouco mais e sua aula perde a qualidade, pois não prepara e está sempre cansado.

ECYA: E qual é a diferença de interesse entre um aula da pública e outro da particular?

Marcelo: Bem, eu também trabalho num curso pré vestibular, com alunos pobres. A diferença é que eles quando tem aula com professores que dão aula com vontade eles valorizam mais, se dedicam mais. Num colégio particular, a maioria está ali obrigado, só pensam na nota, com o não reprovar para evitar um futuro castigo. Alguns são comprometidos. Mas são poucos.

ECYA: Como é dar aula para uma turma que não se interessa pela aula?

Marcelo: Bom, tem dias em que os alunos estão mais cansados, como as duas últimas aulas de sexta à noite. Concorrer com a balada é difícil! Mas nesse dia me empenho mais para não haver evasão.

ECYA: Algum aluno já te xingou?

Marcelo: Que eu saiba, não. Mas concerteza já devo ter sido xingado quando eles recebem o boletim.

ECYA: Já houve tentativas de suborno?

Marcelo: Brincando sempre falam. Aí respondo: “Qualquer 30 mil melhoro sua nota”. Aí eles saem rindo e percebem que não rola.

ECYA: Mas presente você já recebeu, né?

Marcelo: Sempre ganho, mas lembranças geralmente.

ECYA: Algum aluno já deu em cima de você?

Marcelo: Sim, sempre há. Hoje, mais experiente, me faço de tolo às vezes. Outras falo que sou mais velho e que não rola. Mas juro que faz bem ao ego.

ECYA: Mas você não tem vontade de ceder?

Marcelo: Olha. Se eu falasse que nunca saí com aluna, seria um mentiroso. Mas se for maior de idade e for de curso pré vestibular, e ex aluna, não vejo problemas. Porém, evito.

ECYA: Qual é a diferença entre uma aluna de pré vestibular e outra que não é do pré vestibular?

Marcelo: As do pré vestibular são mais velhas. As de colégio são novas demais. Não é bom para minha imagem nem para do colégio.

ECYA: Qual é a pior coisa que um aluno pode fazer quando não sabe uma questão de prova?

Marcelo: Sempre há respostas que dão vontade de rir ou de chorar. Como você fazer uma questão falando de população contextualizando e depois você pergunta sobre o crescimento vegetativo e ele responder que é o crescimento das plantinhas. Alguns tentam enrolar. Fazem letras ilegíveis, escrevem demais para ver se o professor tem preguiça de ler, respondem a lápis para depois que o professor entrega eles apagam e diz que foi corrigido errado...

ECYA: Que roupa você escolhe para dar aula?

Marcelo: Depende do tema. Por exemplo. Esse ano dei aulão uma de paquita, outro de Obama, outro de bruxa, outro de Tche quer Vara. Depende do tema.

ECYA: E como são suas paródias?

Marcelo: No começo foi difícil. Porém não tocava nem instrumento. Então fiz umas aulas de cavado que me deram uma base.

ECYA: Você poderia mostrar alguma:

Marcelo: Sim, fiz essa semana. Ainda nem mostrei aos alunos. Utilizei aquela música “Chora me liga”, do Jorge e Mateus:

É hora de se localizar o Brasil eu vou ensinar
É no ocidente, é todo no ocidente
Você sabia que cortando pelo Equador maior parte no meridional
Eu te falei Austral, eu te falei
Não é bem fácil assim prefiro ser "Corno" ( é porque explico que é preferivel ser Corno (trópico de capricornio) que ter câncer (trópico de Câncer)
Logo você, que era acostumado a banhar só no Atlântico
Não venha me perguntar com quem não faz divisa
Eu sei que com Chile, Equador não existe qualquer saída...
E assim vai!

ECYA: Você é vaidoso na frente dos alunos?

Marcelo: Não só na frente dos alunos, mas não me arrumo para eles. Utilizo umas camisetas engraçadas com frases às vezes, ou camiseta do colégio. Mas de um jeito simples, sempre jeans e camiseta.

ECYA: E essa foto em camiseta no MSN? É para impressionar os alunos?

Marcelo: Não, tenho muitos alunos no MSN. Coloquei no verão. Sempre fica.

E assim, Marcelo trocou a imagem de exibição de seu MSN para outra foto. Esta com camiseta.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

"Joyce, qual é a cor da sua calcinha?", uma entrevista com um operador de telemarketing

Por André Cintra
Dizem que a internet é a desgraça das entrevistas. Porque hoje em dia se faz tudo por e-mail, e o contato olho a olho se esvai como se não tivesse importância. Tudo bem. Concordo. Mas há momentos em que, apesar de tudo, a internet ajuda no trabalho jornalístico. Como nesta entrevista com Joacy, um operador de telemarketing.

Joacy Braz tem 26 anos, é pernambucano de Jaboatão dos Guararapes, e eu jamais chegaria até ele se não fosse pelo Orkut. Aliás, só chegaria se as músicas que ele canta fizessem sucesso, ou se lesse a publicação de suas mais de 800 poesias. Mas ele não tem músicas próprias gravadas, e não há, ainda, editoras interessadas em publicar as poesias. Ele trabalha como auxiliar administrativo de manhã e à tarde, mas é das seis da tarde à meia noite que exerce sua profissão preferida: operador de telemarketing de uma fábrica de blocos para pranchas de surf.

Ganhando cerca de R$5,40 por hora, Joacy entra todos os dias na central de atendimentos muito sorridente, com a roupa que quiser, pronto para atender cerca de 70 chamadas – que podem durar, no máximo, 180 segundos, como num Twitter vocal – num ambiente cujo ar-condicionado nem sempre vence o calor. Ele só atende, é um operador passivo. Por ter a voz um pouco fina, não é raro que o confundam. O sujeito que está do outro lado do país às vezes escuta Joyce ao invés de Joacy, percebe a voz um pouco aguda, e não tem dúvida: “E aí, Joyce?”. Não bastasse o engano, vem em seguida o descaramento: “Qual é a cor da sua calcinha?”. Mas Joacy não se importa. Pelo contrário, responde sem acanhamento: “Eu não uso calcinha.”

El Cabriton y Amigos: Como que é, Joacy? O cliente tem sempre razão?

Joacy Braz: (Joacy ri, sem responder a pergunta)

ECYA: Tem ou não tem?

Joacy: Isso só posso dizer depois que eu analisar o caso. Até que eu analise nem ela está certo, nem eu estou errado.

ECYA: Desde quando você trabalha no call center?

Joacy: Eu trabalho em call center desde julho de 2007. Mas nesse aqui desde maio de 2008.

ECYA: Qual dos seus trabalhos você prefere: o de auxiliar administrativo ou o de operador de telemarketing?

Joacy: Eu prefiro o de operador porque é mais dinâmico. Tem a interação com o cliente... Você dificilmente atende a mesma pessoa. Sem contar a variedade de costumes, jeitos, tipos que se atende e que se convive. Porque se existe um ambiente democrático mais incrível de se conviver, é o call center. Sempre me falam lá no call center que minha alegria de estar lá é inegável, porque estou sempre sorrindo!

ECYA: Não existe um ambiente mais democrático do que um call center?

Joacy: Creio que não. Porque não conheço outro lugar onde você junta evangélicos, católicos, ateus, gays, héteros, bis, homens, mulheres, rockeiros, românticos, punks, tudo numa panela só. Fora desse ambiente, eles estão sempre em seus clãs. Variedade de gente maior do que num call center, com tanta crença, cultura e diferenças, eu jamais vi. E isso me fascina, porque todos convivem bem.

ECYA: Como você lida com seus colegas?

Joacy: Eu lido muito bem com todo mundo porque sou livre. Não sou do tipo que se prende a preconceitos. A vida não dá mais tempo para essas coisas. A gente se diverte. Eu, pelo menos, me divirto muito e interajo muito com todos. Entre um cliente e outro, esclarecendo minhas dúvidas, tirando dúvidas de outros, dando suporte a novatos, conversando com o supervisor. A gente se fala o tempo todo.

ECYA: E qual é a sua relação com seus supervisores? Eles chamam muito a sua atenção? São severos?

Joacy: São profissionais. Mas até hoje, com quase dois anos de empresa, nunca tive problemas com nenhum dos que trabalhei. Pelo contrário. Tenho carinho e respeito por todos. De quem trabalha certo, o supervisor não vai pegar no pé. É só fazer o que se deve.

ECYA: E o que é que se deve fazer?

Joacy: Seguir os procedimentos de atendimento, atender ao cliente com praticidade, estar sempre se reciclando, lendo as atualizações do sistema. Ou seja, você tem que entender que, embora seja divertido na maioria das vezes, é trabalho. Então é focar em cima disso, e tudo dá certo na maioria das vezes.

ECYA: Você trabalha com telemarketing desde quando?

Joacy: Desde maio de 2008.

ECYA: Antes disso, você trabalhou com o quê?

Joacy: Eu penei bastante em busca de emprego fixo. Entre 1999 e 2008 fui vendedor de cosméticos e lingeries via catálogo. Fiz um trabalho de divulgação sem fins lucrativos de uma cantora de MPB entre 2002 e 2005. Entre 2003 e 2009 me tornei poeta e escrevi 8 livros de poesia. Em 2007 entrei no telemarketing.

ECYA: Opa! Poesia? Como é isso?

Joacy: Pois é. Sou poeta e cantor, também. Canto desde meus cinco anos, e a poesia surgiu depois de uma depressão. Foram três anos de depressão entre 2000 e 2003. Aí comecei a escrever para ocupar a mente e a coisa cresceu.

ECYA: O que motivou a sua depressão?

Joacy: A separação dos meus pais, principalmente. Porque afetou demais a minha vida, e minha mãe sofreu muito. Ela ficou tão abalada, que tive medo de perdê-la. Eu estava sem trabalho, sem perspectiva de vida aos 18 anos. Mas foi o amor dela por mim que me reergueu, e Deus colocou o prazer do canto e da poesia para completar. E eu fui ressurgindo das cinzas. Daí meu apelido: Ikki.

ECYA: Ikki?

Joacy: É! Ikki é o cavaleiro Fênix, dos Cavaleiros do Zodíaco!

ECYA: Posso colocar sua mp3 no blog?

Joacy: Sim. Se a Elba me processar, a culpa é sua!

ECYA: Está bem! Você já conseguiu conciliar o telemarketing com seu dom artístico?

Joacy: Não me atrevi a tanto! Mas cantava para algumas supervisoras nas pausas. Elas adoravam!

ECYA: Já que você canta, dá para caprichar na voz na hora de falar com os clientes?

Joacy: Depende do cliente, do humor. A voz varia e oscila muito. Normalmente eu sou naturalmente mulher ao telefone. Isso é hilário.

ECYA: Como assim?

Joacy: Mesmo após a puberdade a voz não ficou muito grave. Então tenho esse desvio sexual via telefone! Em 99% das ligações sou tratada como mulher. A maioria fala “a moça do atendimento”, ou “Joyce, a atendente”.

ECYA: Você se importa com isso?

Joacy: Pelo contrário! Morro de rir. Já levei cantadas, xingamentos, coisas absurdas do tipo: “Joyce, qual é a cor da sua calcinha?”

ECYA: E o que você respondeu?

Joacy: Eu disse que não usava calcinha.

(Silêncio)

Joacy: Mas não disse que não era mulher. Porque com a voz que tenho... Bem, deixa eles pensarem assim. É fetiche deles, mesmo!

ECYA: Na sua vida pessoal, você sente atração por homens ou por mulheres?

Joacy: Uma vez, depois de receber cinco elogios como Joyce, minha supervisora me perguntou por que eu não dizia que era homem.

ECYA: E você disse o quê?

Joacy: Eu disse que eles achavam que eu era mulher porque a voz de fato é feminina. Não valia a pena perder tempo dizendo o contrário. Afinal, ali é um personagem criado pelo próprio cliente. Sempre brinco que sou uma pessoa assexuada no atendimento. Eu entro no prédio como Joacy, mas no atendimento é Joyce, Jéssica, Josy, ou o que o cliente atender. Mas eu fico tranquilo. Se elogiam, sei que fui bem. Se xingam, digo que foi a Joyce.

ECYA: Vem cá. Tem horas em que você se sente chato ou desagradável?

Joacy: Quando eu estou cansado, sim. Na sexta-feira, às vezes. Ou depois de pegar um cliente que me esculhamba. Ou quando tenho muita bronca na empresa de manhã. Enfim, sou humano.

ECYA: Você sente que tem vocação para ser operador de telemarketing?

Joacy: Não sei se existe vocação para isso. Existe, creio eu, perfil.

ECYA: E você tem o perfil, certo?

Joacy: Creio que sim. Porque estou durando quase dois anos como tal. Talvez não teria trabalhado cara a cara porque é complicado você encarar alguém lhe esculhambando e engolir seco. Por telefone é menos dolorido!

ECYA: Como você se sente quando é você que recebe uma ligação de telemarketing fora do horário de trabalho?

Joacy: Ah... Eu fujo! Quando é no celular, eu atendo. Mas em casa, não. Quando atendo e já sei o que é, digo que sou a Joyce, a irmã do Joacy, e digo a ele (eu) não está! Mesmo quando eu não trabalhava, nunca tive muito saco para os que ligam. E eu particularmente evito ligar também.

ECYA: Você já ficou nervoso com algum cliente?

Joacy: Com vários. Já tive vontade de matar alguns. Mas alguns já quiseram me matar, me prender, me estuprar...

ECYA: Como é uma tentativa de estupro por telefone?

Joacy: Foi o senhor pauzudo que tentou. Ele já era conhecido no atendimento. Ele me disse que tinha um celular de 22 centímetros para consultar. Imagina? 22 centímetros é um estupro presumido!

ECYA: Agora a última pergunta, que deveria ser a primeira: você fala no gerúndio?

Joacy: Normalmente sim, até porque quando o cliente entra em contato, não é para reclamar de mim, e sim da operadora e do sistema dela. Quando eles dizem que vocês isso, vocês aquilo, ou você mesmo, diretamente, eu digo, senhor, não sou eu, é o sistema!

ECYA: Então a culpa é da operadora. Você não tem culpa de nada, né?

Joacy: Na maioria das vezes, não. Mas às vezes acontecem erros porque um atendente não passou corretamente a informação. Por preguiça ou falta de conhecimento, mesmo. Às vezes o cliente liga dez vezes pelo mesmo motivo. E o pior é quando você vai dizer a verdade a ele depois que nove disseram o contrário. Aí é triste para mim que vou ouvir aqueles elogios básicos. Mas já acostumei.

(Silêncio)

Joacy: Ah, sobre uma pergunta sobre o que me atrai, sou livre e isso basta.

Se quiser, ouça a música "Ciranda da Rosa Vermelha", de Elba Ramalho, cantada por Joacy:



Ou então, leia uma poesia escrita por ele:

Vivendo a vida (Joacy)


Meu caminho é um rio
Que corre sozinho
Minha vida é uma trilha
Que segue sem guia
Vou vivendo a caminhar
E a cantar canções
Eu sou livre como o ar
Que nas manhãs se faz

Sou como um bicho feroz
Sou solto e veloz
Quando é preciso eu grito
E encaro o perigo
O que quero eu consigo
Eu luto por isso
Nada mais me intimida
Eu enfrento a vida

Eu não temo a solidão
Porque sou emoção
Busco o que acredito
Ser o que eu preciso
Eu escrevo o meu destino
É assim que vivo
Tento fazer o melhor
Pra não me sentir só.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Entrevista com Renato, o @uedious

Conhecemos Renato Bonfin (@uedious) no Twitter. Perguntamos se o ego ia bem, e ele respondeu: “O ego, não sei. Mas e o intestino?” Não entendemos bulhufas, mas tinha sido uma resposta muito engraçada. Pensamos: se ele deu uma resposta engraçada, poderia dar várias. Por que não entrevistá-lo?!

Nosso pensamento deu certo. Ele deu várias respostas espirituosas, e até se antecipou a algumas perguntas. Parece até que a entrevista foi feita por e-mail! Se eu fosse você, leria a entrevista até o fim. Vale a pena.

El Cabriton y Amigos:
Qual é o seu nome?

Renato Bonfin: Renato Bonfim é o nome que os meus pais escolheram. Na internet prefiro ser chamado de @uedious. Criação própria.

ECYA: Criação própria? Mas de onde você tirou essa ideia?

Renato: Eu, um jovem puro e inocente, ao conectar-me com a internet, fiquei com medo de revelar meu nome, já que sou uma pessoa reservada. Enfim, resolvi criar um nick que fosse legível e que todos conseguissem ler e pronunciar. Assim saiu uedious. Que se pronuncia uêdious, embora muitos falem uédious. É, foi assim. Não tem nada a ver com nome de cachorro, periquito ou papagaio. É só uma forma de identificação na internet. É estranho, nem o Google entende. Se procurar lá, ele corrige. Vou pedir pro Aurélio incluir no dicionário.

ECYA: Quantos anos você tem?

Renato: Tenho 16 anos e daqui 35 dias (se eu não errei nas contas rere) faço 17.

ECYA: Em que cidade você mora?

Renato: Moro em Guarulhos, mas vivo mais em São Paulo. Do lado.

ECYA: Desde quando você usa o Twitter?

Renato: Eu tenho o Twitter há 1 ano e meio quase, mas uso frequentemente há um ano apenas. O vício me pegou também.

ECYA: Como você está vestido neste exato momento?

Renato: Estou com uma camiseta azul marinho, uma bermuda listrada (adoro!) e um tênis preto e azul pra combinar.

ECYA: Você já tem camisetas El Cabriton?

Renato: Ainda não. Estou esperando ganhar uma de presente. Estou esperando ficar disponível a que eu quero mesmo.

ECYA: De qual estampa você gosta mais?

Renato: Eu adoro a Relax, do balãozinho, e também gosto da Candy. Mas cheguei tarde, não estão disponíveis. CRY.

ECYA: Como você escolhe suas roupas?

Renato: Eu olho, gosto e compro. Não, não é bem assim. Mas eu não tenho frescura, só gosto de camisetas com estampas diferentes de qualquer outra, que ninguém teria coragem de usar, só eu. É chato sair e encontrar alguém com uma roupa igual a sua, dá vontade de tirar na hora.

ECYA: Você já esteve em Moscou?

Renato: Não, prefiro Dubai.

ECYA: E em Dubai?

Renato: Gosto, mas o Líbano encabeça a minha lista.

ECYA: Tá bom, vai. Mas ao Líbano você já foi, né?

Renato: Também não. Ainda me falta companhia. De uma carteira recheada.

ECYA: Também não? Para quais cidades você já foi?

Renato: Já fui pra Três Lagoas, no meio do Mato Grosso do Sul, ao encontro da Juma. Já fui pra Ubatuba procurar o Clô. Já fui pra São Paulo, mas faz tempo, ainda não comprei meu barco, é necessário.

ECYA: De qual gostou mais?

Renato: Ubatuba. Adoro praia.

ECYA: Você gosta de futebol?

Renato: Gosto, de quatro em quatro anos. Copa do Mundo.

ECYA: Por qual time você torce?

Renato: Corinthians, mas não sou um torcedor roxo como alguns. Só torço. Se perdeu, eles que chorem e cuidem do time, não me preocupo.

ECYA: Já foi ao estádio?

Renato: Ainda não, mas tenho vontade de ir. Quem sabe quando eu for me suicidar, eu não vá assistir Corinthians e Palmeiras.

ECYA: Fale qualquer coisa. O tema é livre.

Renato: Ia mandar um beijo pra minha mãe e pro meu pai, mas não. Só indico que todos assistam Desperate Housewives, uma série ótima e inteligente. Only this. Agora tchau, acabei de filmar com um bode e agora vou ficar com uma cobra. Gracias a todos argentinos pela linda energia, besos mio y de sashita.

ECYA: Compreendo, compreendo. Muito obrigado pela entrevista!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Telemarketing para André

por André Cintra

Eram sete e trinta e quatro da manhã, quando o telefone de André tocou. Ele pensou que alguém fosse atender, mas não havia ninguém em casa. Então, ele pensou que o telefone fosse parar de tocar, mas o assunto devia ser realmente importante: quem estava do outro lado da linha não desistiu. Por isso, André atendeu no décimo oitavo toque.

Para grande surpresa dele, ao atender ouviu sinais de chamada, como se ele mesmo tivesse ligado para alguém: “tu... tu... tu...”. Uma moça disse, em sua pressa: “Espere um instante que já poderei falar com o senhor!” Não pergunte por que André não desligou diante de tamanho desaforo. Talvez tenha sido o sono, talvez tenha sido pelo medo de que tornassem a ligar, e talvez tenha sido mera curiosidade masoquista. Não sei. Ele continuou na linha. E depois de trinta segundos, uma voz automática lhe disse (aqui, ele pensou: por que uma máquina tem que esperar trinta segundos para falar? Ela estava ocupada, falando com outra pessoa?):

- Se tiver sido acordado por esta ligação, digite 1. Se já estava acordado antes desta ligação, digite 2.

- 1.

- Por que estava dormindo a uma hora dessas? Fale pausadamente para que nosso computador reconheça o motivo.

- Porque fui dormir tarde.

- Para não fazer alarde?

- Não. Porque fui dormir tarde!

- Se o senhor não queria fazer alarde por estar com peso na consciência, digite 1. Se o senhor não queria fazer alarde porque é tímido, digite 2. Se quiser falar com uma de nossas atendentes, aguarde, que em instantes iremos atendê-lo.

André esperou. Há certos momentos em que nada pode ser mais reconfortante do que uma voz humana. É por isso que ele esperou por sete minutos, e sequer sentiu vontade de voltar a dormir.

- Bom dia, senhor. Em que posso ajudar?

- Não sei. Foi você que me ligou.

- Eu não liguei para o senhor, não!

- Então foi sua empresa.

- Sim, nós ligamos. Ligamos porque o senhor precisa de ajuda.

- Como você sabe?

- Isso não consta no sistema, senhor. Preciso primeiro lhe fazer algumas perguntas. Como é seu penteado?

- Deixo a parte da frente do cabelo um pouco para cima. Nada muito acintoso.

- Você usa gel?

- Isso é segredo.

- Você prefere andar de chinelo ou de tênis?

- Chinelo para pequenas distâncias. Tênis para as longas.

- Usa bastante o Twitter?

- Para o trabalho, principalmente.

- Entendi. Agora sabemos como ajudá-lo. Aguarde a próxima ligação. Tenha uma boa tarde e passe bem.

“tu, tu, tu, tu, tu...” André ouviu o telefone emitir sons de ocupado por um longo tempo antes de desligar. Mas agora estava satisfeito, pois sabia que poderia ser ajudado.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Entrevista com Fabio Fernandes, do Twitter

Fabio Fernandes (@fabioafernand) é o primeiro entrevistado pelo Twitter. Ele foi receptivo à entrevista com Ísssimo, o ar-condicionado portátil, e logo lhe propusemos uma entrevista com ele mesmo. Não sabíamos o que esperar, afinal só o conhecíamos pelo Twitter, mas não é que ele se saiu muito bem?! Ele teve desenvoltura para escapar das pegadinhas e até nos pregar algumas peças. Isso só quer dizer que entrevistaremos muito mais twitteiros. Aguardem!

El Cabriton y Amigos: Você já foi entrevistado alguma vez?

Fabio Fernandes: Não

ECYA: Em que cidade você mora?

Fabio: Rio de Janeiro (Tijuca).

ECYA: Tem filhos?

Fabio: Sim! Minha pimpolha se chama Izabela e tem nove anos.

ECYA: Se você estivesse perdido no meio do deserto e encontrasse um camelô, preferiria comprar um óculos escuros de mole Ray Ban mas com a marca Dior (e o camelô não dá a certeza de que haja a proteção contra os raios UV), ou brinquedos falsificados para levar para as crianças (e o camelô não dá a certeza de que o Inmetro aprovou)?

Fabio: Eu compraria o mix de Ray Ban com Dior e dava de presente para minha sogra.

ECYA: Como é a camiseta que você está vestindo agora?

Fabio: Preta com a cara do coringa (Heath Ledger) – Alvo certo, mas tenho uma preferida que é uma do Linux Mall que esta escrito There´s no place like 127.0.0.1.

ECYA: Qual a camiseta da El Cabriton de que você mais gosta?

Fabio: Gosto de duas Old School Nerd e Bom, ótimo e excelente

ECYA: Por qual time você torce?

Fabio: Sou tricolor de coração. Sou do clube tantas vezes campeão. Fascina pela sua disciplina, O Fluminense me domina. Eu tenho amor ao tricolor!

ECYA: Qual é o time que você mais detesta?

Fabio: Odeio a LDU! Tenho motivos né? Foram duas finais que perdemos.

ECYA: Com quantos anos você fez a sua primeira tatuagem?

Fabio: Ainda não fiz!

ECYA: (para o caso de você não ter tatuagem) O quê? Você não tem tatuagem? Por que não?

Fabio: Já pensei em fazer e acho bacana, mas antes a Patroa tem que aprovar.

ECYA: Você sabe dançar tango?

Fabio: Da Argentina só curto mesmo é o Dario Conca (Joga no Fluzão) e o contra filé deles.

ECYA: E sambar? Sambar você sabe, né?

Fabio: Também não! Sou carioca, mas não tenho samba no pé. Acho que foi muito Hardcore, Punk rock e etc.

ECYA: Também não? O que é que você sabe fazer?

Fabio: Eu sei cuidar bem da minha esposa e filha. Além disso, trabalho há uns 10 anos com Infraestrutura de redes de computadores. Como hobby gosto de algo bem nerd que é plastimodelismo, mas ultimamente estou sem tempo para praticar.

ECYA: Você gostou de ser entrevistado?

Fabio: Achei interessante.

ECYA: Dê suas considerações finais?

Fabio: Valeu pela oportunidade! Vou passar a acompanhar o blog de vocês e me tornar cliente também. Estou de olho nas duas camisetas que indiquei como as que mais gosto.

ECYA: Só isso? Fale um pouco mais.

Fabio: Vou aproveitar o espaço e dar uma dica! Escutem o programa Drop Kick da rádio Chaosmopolitan toda quarta em www.chaosmopolitan.com. Show de bola! Estão concorrendo como melhor webrádio pela djmag. Música eletrônica de bom gosto.

ECYA: Assim está bom. Muito obrigado pela colaboração!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Entrevista com Vanessa


Não é só de camisetas que vive um projeto como o El Cabriton. O que seriam das camisetas da loja, se não tivesse quem as vendesse? Por isso, resolvemos entrevistar Vanessa, a vendedora da loja. Ela passa a maior parte do dia convivendo com os clientes, realizando as melhores vendas. Está na hora de conhecê-la melhor, não é mesmo? Confira 10 perguntas capciosas a Vanessa.

El Cabriton Y Amigos: Desde quando você trabalha na loja?

Vanessa: Desde Junho ou Julho de 2009. Minha memória é um dos meus melhores atributos.

ECYA: Qual é a sua função?

Vanessa: Vendedora

ECYA: Você gosta de trabalhar aqui?

Vanessa: Mas é claro!

ECYA: Do que você mais gosta no El Cabriton?

Vanessa: Das camisetas!

ECYA: Você pretende casar?

Vanessa: Com as leis desse país... pff, tá difícil.

ECYA: Qual é o seu artista favorito?

Vanessa: Artista é muito abrangente! Cinema, Lynch. Música, David Bowie. Artes, Bosch.

ECYA: Você tem um time de futebol?

Vanessa: Olha, não comprei nenhum ainda, mas gremista de coração e corintiana por estado de espírito.

ECYA: Qual é a diferença entre a El Cabriton e as outras marcas?

Vanessa: Qualidade, acessibilidade e variedade. Ah e, claro, a modéstia... de sermos incríveis!

ECYA: Você já brigou com clientes?

Vanessa: Não. Por anos venho desenvolvendo uma técnica única de paciência.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Entrevista com Ísssimo 13, o ar-condicionado portátil

Qual é a maior invenção da humanidade? O papel? Isso só se for para os europeus, que não têm que lidar com o calor tropical. A maior invenção, para nós, brasileiros, só pode ser o ar-condicionado. É por isso que a El Cabriton, cansada de tanto calor em seu escritório, comprou Ísssimo 13, o ar-condicionado portátil – como ele faz questão de frisar.

Ísssimo é um cara frio. Mas isso não impede que lhe tenhamos grande afeto. Ele cumpre seu trabalho com maestria, diminuindo a temperatura com afinco. É um ar-condicionado vocacional. Ele é tão dedicado ao trabalho, que dorme no escritório sem cobrar hora-extra! E se fosse necessário, trabalha até de madrugada. A entrevista transcorreu com certa tranqüilidade. No começo, ainda muito tímido, só usava o jargão dos ares condicionados. Depois, foi se soltando e até ensaiou algumas piadinhas. Vamos à entrevista!

El Cabriton y Amigos: Como você descobriu que poderia ser um ar-condicionado?

Ísssimo: Pffffff...

ECYA: Como assim?

Ísssimo: Pfffffff... Pffff... Pff... Pffffffffffffff...

ECYA: Você acredita em Deus feito à sua semelhança?

Ísssimo: Não.

ECYA: No que você acredita?

Ísssimo: Eu acredito em Deus, mas não creio que ele seja parecido comigo. Ele deve ser parecido, sei lá, com o Michael Jackson, ou com o pessoal do filme Avatar. E acredito que todos têm uma missão. Garrincha nasceu para driblar, Machado de Assis nasceu para escrever, Maluf nasceu para roubar, e eu nasci para esfriar!

ECYA: Como você consegue esfriar tão bem? Eu seria incapaz!

Ísssimo: Veja, eu esfrio, mesmo. Não sou como alguns, que só ventilam. Meu trabalho é esfriar. E minha vida é meu trabalho. É tudo termodinâmica e mecânica dos fluídos.

ECYA: Compreendo. Vem cá, estamos no meio da entrevista. Você pode parar um pouco de funcionar, se quiser.

Ísssimo: Mas eu só paro desligado. E desligado, não posso conversar!

ECYA: Desculpe. Então continuemos. Você demonstra que gosta muito de sua função. Mas confesse. Só aqui entre nós. Você não sente falta do calor?

Ísssimo: Por muito tempo eu senti falta do calor. Mas eu comecei a perceber que, assim como o calor atrapalha meu funcionamento, o calor prejudica o funcionamento humano. Tem gente que é incapaz de comer uma feijoada quando faz calor! Por isso, hoje posso dizer, com muita segurança, que o calor é ruim e faz mal.

ECYA: Agora preciso entrar numa questão polêmica, e espero que você não se importe. O aquecimento global tem atrapalhado o mundo inteiro. Pode-se dizer que o futuro das espécies está ameaçado porque a temperatura tem crescido assustadoramente. Podemos dizer, porém, que os ares condicionados se beneficiam do aquecimento global?

Ísssimo: Veja bem. Eu não tenho culpa que aumentou a temperatura do mundo. Pelo contrário! Eu baixo a temperatura de parte do mundo. De um escritório, é verdade. Mas eu digo com alegria e satisfação que ajudo a evitar o aquecimento global. Além do mais, sempre há quem se beneficie das tragédias. As floriculturas se beneficiam dos enterros, as lojas de R$1,99 se beneficiam da pobreza do povo brasileiro, a indústria bélica se beneficia das guerras, e eu me beneficio do aquecimento global.

ECYA: Faz sentido! Mas vamos falar um pouco mais da sua vida. Do que você se alimenta?

Ísssimo: Energia pura. 110 voltz.

ECYA: 220 voltz, nem pensar?

Ísssimo: Nem pensar! Quer me ver morto, rapaz?!

ECYA: Não é isso que eu quis dizer. Era só para ter certeza! Você sente falta do dia ao ar livre?

Ísssimo: Imagine! Nem um pouco. Aliás, eu tenho rodinhas, olha aqui! São belas, não são? Posso me locomover até onde quiser, porque sou do sistema de cano. Aliás, morro de dó e de rir dos ares condicionados que ficam estacionados na parede! Que coisa mais triste! Que coisa mais cômica!

ECYA: Como é essa rixa entre os fixos e os portáteis?

Ísssimo: Eu nem preciso dizer nada. Os fixos são patéticos! Eu teria pena, se não fossem tão arrogantes. Além do mais, eles são aparecidos. Ficam lá no alto, querendo chamar a atenção das pessoas!

ECYA: Não quero entrar no mérito dessa questão. Nunca se sabe quando precisarei de um fixo. Só uma coisa antes de liberá-lo. De onde vem seu sobrenome 13?

Ísssimo: Não é exatamente um sobrenome. Isto remete à numerologia. Antes de sair da fábrica, consultei uma numeróloga, que me disse para acrescentar o 13. Isso aceleraria as vendas. E deu certo!

ECYA: Creio que pudemos conhecê-lo muito melhor. É um prazer tê-lo aqui conosco. Até logo, Ísssimo!

Ísssimo: Até mais. Qualquer coisa, é só pedir, que eu diminuo a temperatura!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Entrevista com Alê Ferro

Com os fones de ouvido pendurados por dentro da camiseta azul, a fala calma, Alê Ferro nos recebeu para uma entrevista enquanto fazia a nova fachada da loja El Cabriton. Aos 30 anos, há cinco vive só de seus trabalhos como artista. Vai ver é por isso, parece que está sempre pensando. Pensando nas ideias que ainda não teve, nos trabalhos que ainda realizará e, por que não?, nas ideias que já teve. Todas essas ideias têm só uma morada: a cidade. E Alê não sai dela. Pelo contrário: a vive intensamente. Tanto, que só anda de bicicleta!

El Cabriton Y Amigos: Desde quando você desenvolve este trabalho como artista plástico?

Alê Ferro: Eu sou artista plástico, de viver só disso, há cinco anos. Eu fazia grafite quando moleque, fiz faculdade de arquitetura... Mas de viver disso, faz cinco anos, mesmo.

ECYA: Você não precisa trabalhar com outras coisas?

Alê Ferro: Eu só vivo disso. Eventualmente eu faço alguns trabalhos de arquitetura, que é a minha formação. Mas eu vivo disso, sim.

ECYA: Qual é a ideia da fachada da loja?

Alê Ferro: Esse trampo é como se fosse uma historinha. Eu vou contando a historinha aos poucos. A ideia é reproduzir a cidade. Vai ter uns meninos voadores. E a ideia é a foto de um momento... Sabe quando você está passando a alguém te cutuca, e você leva um susto? A ideia é fotografar esse momento.

ECYA: E os seus outros trabalhos?

Alê Ferro: Olha, eu não curtia mais ser tão enquadrado pela polícia. Eu não ficava confortável com isso. Não que deixasse de fazer alguma coisa. No final dava tudo certo. Mas eu não achava isso legal. E comecei a construir minhas próprias paredes. Comecei a trabalhar com o lixo. Os passarinhos, por exemplo, são pedaços de madeira, que seriam lixo. Aí eu usei stickers e pendurei os passarinhos.

ECYA: Como você trabalha com o lixo?

Alê Ferro: O lance com o lixo é o meu grande forte. A ideia é reciclar produtos. A luminária é um exemplo disso. Aquilo seria lixo, se eu não transformasse em luminária. Acho que a nossa geração já está mais esperta com isso. Que a rua é nossa. Que não pode jogar tanto as coisas fora. Por exemplo. Eu ando só de bike.

ECYA: Ah, é? Como é essa história?

Alê Ferro: Eu ando só de bike porque roubaram meu carro. E como o seguro não quis pagar, nunca mais eu andei de carro. E andando de bike, eu sinto mais a cidade.

ECYA: Como funciona a Quitanda Urbana?

Alê Ferro: A Quitanda Urbana é um escritório. É como se fosse um aglomerado de escritórios de uma pessoa só. A Quitanda funciona como uma marca de design urbano. Tem a Ezo, que é sobre grafite. O Celofane Souls é uma banda, um projeto de fazer sons para os desenhos. É como se eu pudesse fazer um cenário urbano feitos de lixo usando técnicos do grafite, stickers, várias coisas. E pudesse até ter músicas.

ECYA: Qual é a ideia das receitas que você prega nos postes?

Alê Ferro: Eu prego as receitas em pontos de ônibus, em banheiros. Cheguei até a colar um na Daslu. Quando é um lugar muito sofisticado como esse, a ideia é colocar uma receita tosca, como um bife à milanesa. Já no ponto de ônibus, é o contrário, uma receita sofisticada. A intenção é a pessoa ver a receita, ficar pensando nela, ou anotando, e perder o ônibus.

ECYA: Como você escolhe as suas camisetas?

Alê Ferro: A maioria, eu mesmo customizo. Curto também usar trampos de outros artistas.

ECYA: Qual é a sua camiseta preferida da El Cabriton?

Alê Ferro: Eu curto muito as de bebê. Andei olhando no site, e vi que vou dar um monte de presente pro pessoal. Eu gosto de várias estampas, com imagem, mesmo, mas não tenho exatamente uma preferida.

ECYA: Quais são as suas maiores influências?

Alê Ferro: O que mais me influencia é a cidade como meu ambiente. A cidade é um prato cheio!

ECYA: Por qual time você torce?

Alê Ferro: Palmeiras!

ECYA: Como você lida com as críticas? Já teve gente falando mal do seu trabalho?

Alê Ferro: Eu acho legal ter crítica, mas não sou muita atenção. Eu nem falo que sou grafiteiro. Sou artista plástico. É para não arrumar uma rixa errada. Meu lance é o de viver a cidade.

ECYA: Onde você mora?

Alê Ferro: Eu moro no Brooklin.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

André - Estagiário do El Cabriton y Amigos - 1º dia


André começou hoje, dia 1º de fevereiro, às 10h00, no El Cabriton. Ele tem um jeito excessivamente tímido, e não sabe quando tem que olhar para as pessoas, porque nunca sabe se é com ele que estão falando. Suas respostas são sempre monossilábicas e inconclusivas. Por isso, resolvemos fazer uma entrevista com ele para saber quem é que está pisando na sede de El Cabriton. Vai que ele seja um assassino e não tenha revelado isso ainda?! Vamos à entrevista.

El Cabriton y Amigos: André, me fale um pouco sobre você. Quantos anos você tem?

André: Vinte e dois. Mas faço 23 em abril. Então tecnicamente tenho mais 23 do que 22.

ECYA: Você não é assassino, né?

André: Não. Fique tranqüilo!

ECYA: Compreendo. Já que não é assassino, você é o quê? Jornalista, publicitário, traficante...?

André: Jornalista. Me formei no ano passado.

ECYA: Você está meio quieto. Se solte!

André: Como vou me soltar, se é meu primeiro dia?!

ECYA: Não sei. Vou continuar com as perguntas. Espero que você não seja tão lacônico. Qual é a sua camiseta preferida?

André: Uma do Palmeiras. Verde limão. É antiga, do ano retrasado. Mas é do meu jogador preferido, o Valdívia.

ECYA: E que outros tipos de camiseta você curte?

André: Eu gosto de camisetas que mostrem alguma coisa diferente, mas que não seja nada muito explícito ou forçado. A camiseta não pode ser uma piada sem graça. Não precisa nem ser engraçada – embora seja legal uma camiseta engraçada. É legal que ela tenha uma boa idéia!

ECYA: Compreendo. E quais as camisetas do El Cabriton de que você mais gosta?

André: Eu gosto de todas.

ECYA: Não fique tão em cima do muro! Cite cinco.

André: Tá bom, tá bom. A da zebra, que tem um menino pintando as listras dela, eu acho genial. Tem outra ótima, que tem uma nuvem, e chove no bolso. A que tem um desenho de um bolsinho com o estilingue dentro, também é demais. Quantas eu já falei?

ECYA: Três. Faltam duas.

André: A do rato com o mouse, e a do cara jogando Guitar Hero como se fosse uma guitarra de verdade.

ECYA: Por que você escolheu essas cinco?

André: Porque são idéias ótimas. É aquilo que eu disse. Tem umas que não são necessariamente engraçadas. Mas são ótimas idéias.

ECYA: Entendi. Você já está se repetindo. Qual será a sua função aqui na ECYA?

André: Eu vou ajudar no conteúdo do site e nos blogs. Vou fazer entrevistas e cuidar de mídias sociais. Pelo que entendi é isso. Ah! Também tem alguma coisa relacionada a assessoria de imprensa.

ECYA: Mas já é certo, isso? Você está efetivado?

André: Não. Estou em teste. Serão cinco dias de testes.

ECYA: Mas como você veio parar aqui?

André: Vim por um agradável acidente. Na semana passada recebi um e-mail com uma semi-proposta deles. Conversamos por MSN – eu estava em Santos. E acertamos que faríamos essa semana de teste. Uma semana, não. Cinco dias.

ECYA: Então vou parar de fazer perguntas para não mais atrapalhar.

André: Agradeço.