terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Marcelo, karateca e professor (e vice-versa)


Se o futuro das crianças está na mão dos professores, o futuro dos aolescentes na faculdade está na mão dos professores de cursinho. São eles que ensinam as melhores paródias, contam as melhores piadas e que, às vezes, quando sobra algum tempo entre um risada e outra, ensinam o conteúdo necessário para passar no vestibular.

Por isso, resolvemos entrevistar por MSN Marcelo da Silva, 33 anos, um professor de geografia em um cursinho de Florianópolis. Ele entrou na geografia por uma estrada bastante peculiar, o karatê. E hoje, quando canta suas paródias que colocam seus alunos na faculdade, não se arrepende: fez a escolha certa.

El Cabriton y Amigos: Marcelo, estudar na véspera da prova dá certo, né?

Marcelo da Silva: Sempre falo que o aluno deve ter uma rotina de estudos, ao final de cada dia de aula, revisar o que o professor explicou. Mas hoje não são raros os alunos que estudam na semana de prova, Alguns, nem isso.

ECYA: Você foi um bom aluno?

Marcelo: Regular. Sempre estudei em escola pública, com poucos professores comprometidos.

ECYA: Você acha que estudar em escola pública lhe foi vantajoso?

Marcelo: Por um lado sim, pois tive vários professores não comprometidos, que não davam aula por achar que ganham pouco. Isso me serviu de exemplo, dou aula não pelo salário apenas, faço tudo diferente do que eles faziam. Entro na sala com muita vontade de ensinar.

ECYA: E os alunos? Eles entram com muita vontade de aprender?

Marcelo: No meu ponto de vista, depende muito do professor. Hoje, o aluno recebe muita informação, tudo ao mesmo tempo – assiste TV, vê Orkut, atende celular... Se o professor ficar passando a informação de uma forma monótona, não há como. Cada professor deve criar um diferencial

ECYA: E qual é o seu diferencial?

Marcelo: Sou alegre, faço as paródias, e faço os alunos pensarem.

ECYA: Posso deduzir pelo que você está dizendo, que os professores mais ortodoxos estão perdendo o bonde? Ou seja, que os alunos não aprendem mais do jeito antigo?

Marcelo: Aprendem, sim. Porém, eles preferem professores que falem com o linguajar deles. Não pode haver excesso, apelidos que ofendam, mas brincadeiras na hora certa fazem bem ao clima da aula. Nada exagerado. Tem que haver o respeito. Isso sempre o professor deve exigir.

ECYA: Por que você é professor de geografia e não de biologia?

Marcelo: Bem, sou professor de karatê também. E fui dar aula de karatê em uma cidade a cerca de 150 quilômetros de Florianópolis, num colégio. Estava dando aula e um professor de geografia faltou. O diretor pediu para substituí-lo e fui. Adorei. Voltei a Floripa e fiz o vestibular.

ECYA: Hoje em dia você ainda dá aula de karatê?

Marcelo: Sim. Em um projeto social para crianças bem carentes.

ECYA: Você dá aula em escola pública ou particular?

Marcelo: Hoje somente em particulares. O salário que o governo paga é impossível sobreviver. Isso me revolta.

ECYA: Qual é a diferença salarial?

Marcelo: Um professor de cursinho ganha de três a seis mil reais. No Estado, aqui, na faixa de mil. Aí o professor pega muita aula para poder ganhar um pouco mais e sua aula perde a qualidade, pois não prepara e está sempre cansado.

ECYA: E qual é a diferença de interesse entre um aula da pública e outro da particular?

Marcelo: Bem, eu também trabalho num curso pré vestibular, com alunos pobres. A diferença é que eles quando tem aula com professores que dão aula com vontade eles valorizam mais, se dedicam mais. Num colégio particular, a maioria está ali obrigado, só pensam na nota, com o não reprovar para evitar um futuro castigo. Alguns são comprometidos. Mas são poucos.

ECYA: Como é dar aula para uma turma que não se interessa pela aula?

Marcelo: Bom, tem dias em que os alunos estão mais cansados, como as duas últimas aulas de sexta à noite. Concorrer com a balada é difícil! Mas nesse dia me empenho mais para não haver evasão.

ECYA: Algum aluno já te xingou?

Marcelo: Que eu saiba, não. Mas concerteza já devo ter sido xingado quando eles recebem o boletim.

ECYA: Já houve tentativas de suborno?

Marcelo: Brincando sempre falam. Aí respondo: “Qualquer 30 mil melhoro sua nota”. Aí eles saem rindo e percebem que não rola.

ECYA: Mas presente você já recebeu, né?

Marcelo: Sempre ganho, mas lembranças geralmente.

ECYA: Algum aluno já deu em cima de você?

Marcelo: Sim, sempre há. Hoje, mais experiente, me faço de tolo às vezes. Outras falo que sou mais velho e que não rola. Mas juro que faz bem ao ego.

ECYA: Mas você não tem vontade de ceder?

Marcelo: Olha. Se eu falasse que nunca saí com aluna, seria um mentiroso. Mas se for maior de idade e for de curso pré vestibular, e ex aluna, não vejo problemas. Porém, evito.

ECYA: Qual é a diferença entre uma aluna de pré vestibular e outra que não é do pré vestibular?

Marcelo: As do pré vestibular são mais velhas. As de colégio são novas demais. Não é bom para minha imagem nem para do colégio.

ECYA: Qual é a pior coisa que um aluno pode fazer quando não sabe uma questão de prova?

Marcelo: Sempre há respostas que dão vontade de rir ou de chorar. Como você fazer uma questão falando de população contextualizando e depois você pergunta sobre o crescimento vegetativo e ele responder que é o crescimento das plantinhas. Alguns tentam enrolar. Fazem letras ilegíveis, escrevem demais para ver se o professor tem preguiça de ler, respondem a lápis para depois que o professor entrega eles apagam e diz que foi corrigido errado...

ECYA: Que roupa você escolhe para dar aula?

Marcelo: Depende do tema. Por exemplo. Esse ano dei aulão uma de paquita, outro de Obama, outro de bruxa, outro de Tche quer Vara. Depende do tema.

ECYA: E como são suas paródias?

Marcelo: No começo foi difícil. Porém não tocava nem instrumento. Então fiz umas aulas de cavado que me deram uma base.

ECYA: Você poderia mostrar alguma:

Marcelo: Sim, fiz essa semana. Ainda nem mostrei aos alunos. Utilizei aquela música “Chora me liga”, do Jorge e Mateus:

É hora de se localizar o Brasil eu vou ensinar
É no ocidente, é todo no ocidente
Você sabia que cortando pelo Equador maior parte no meridional
Eu te falei Austral, eu te falei
Não é bem fácil assim prefiro ser "Corno" ( é porque explico que é preferivel ser Corno (trópico de capricornio) que ter câncer (trópico de Câncer)
Logo você, que era acostumado a banhar só no Atlântico
Não venha me perguntar com quem não faz divisa
Eu sei que com Chile, Equador não existe qualquer saída...
E assim vai!

ECYA: Você é vaidoso na frente dos alunos?

Marcelo: Não só na frente dos alunos, mas não me arrumo para eles. Utilizo umas camisetas engraçadas com frases às vezes, ou camiseta do colégio. Mas de um jeito simples, sempre jeans e camiseta.

ECYA: E essa foto em camiseta no MSN? É para impressionar os alunos?

Marcelo: Não, tenho muitos alunos no MSN. Coloquei no verão. Sempre fica.

E assim, Marcelo trocou a imagem de exibição de seu MSN para outra foto. Esta com camiseta.

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