quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Entrevista com Ísssimo 13, o ar-condicionado portátil

Qual é a maior invenção da humanidade? O papel? Isso só se for para os europeus, que não têm que lidar com o calor tropical. A maior invenção, para nós, brasileiros, só pode ser o ar-condicionado. É por isso que a El Cabriton, cansada de tanto calor em seu escritório, comprou Ísssimo 13, o ar-condicionado portátil – como ele faz questão de frisar.

Ísssimo é um cara frio. Mas isso não impede que lhe tenhamos grande afeto. Ele cumpre seu trabalho com maestria, diminuindo a temperatura com afinco. É um ar-condicionado vocacional. Ele é tão dedicado ao trabalho, que dorme no escritório sem cobrar hora-extra! E se fosse necessário, trabalha até de madrugada. A entrevista transcorreu com certa tranqüilidade. No começo, ainda muito tímido, só usava o jargão dos ares condicionados. Depois, foi se soltando e até ensaiou algumas piadinhas. Vamos à entrevista!

El Cabriton y Amigos: Como você descobriu que poderia ser um ar-condicionado?

Ísssimo: Pffffff...

ECYA: Como assim?

Ísssimo: Pfffffff... Pffff... Pff... Pffffffffffffff...

ECYA: Você acredita em Deus feito à sua semelhança?

Ísssimo: Não.

ECYA: No que você acredita?

Ísssimo: Eu acredito em Deus, mas não creio que ele seja parecido comigo. Ele deve ser parecido, sei lá, com o Michael Jackson, ou com o pessoal do filme Avatar. E acredito que todos têm uma missão. Garrincha nasceu para driblar, Machado de Assis nasceu para escrever, Maluf nasceu para roubar, e eu nasci para esfriar!

ECYA: Como você consegue esfriar tão bem? Eu seria incapaz!

Ísssimo: Veja, eu esfrio, mesmo. Não sou como alguns, que só ventilam. Meu trabalho é esfriar. E minha vida é meu trabalho. É tudo termodinâmica e mecânica dos fluídos.

ECYA: Compreendo. Vem cá, estamos no meio da entrevista. Você pode parar um pouco de funcionar, se quiser.

Ísssimo: Mas eu só paro desligado. E desligado, não posso conversar!

ECYA: Desculpe. Então continuemos. Você demonstra que gosta muito de sua função. Mas confesse. Só aqui entre nós. Você não sente falta do calor?

Ísssimo: Por muito tempo eu senti falta do calor. Mas eu comecei a perceber que, assim como o calor atrapalha meu funcionamento, o calor prejudica o funcionamento humano. Tem gente que é incapaz de comer uma feijoada quando faz calor! Por isso, hoje posso dizer, com muita segurança, que o calor é ruim e faz mal.

ECYA: Agora preciso entrar numa questão polêmica, e espero que você não se importe. O aquecimento global tem atrapalhado o mundo inteiro. Pode-se dizer que o futuro das espécies está ameaçado porque a temperatura tem crescido assustadoramente. Podemos dizer, porém, que os ares condicionados se beneficiam do aquecimento global?

Ísssimo: Veja bem. Eu não tenho culpa que aumentou a temperatura do mundo. Pelo contrário! Eu baixo a temperatura de parte do mundo. De um escritório, é verdade. Mas eu digo com alegria e satisfação que ajudo a evitar o aquecimento global. Além do mais, sempre há quem se beneficie das tragédias. As floriculturas se beneficiam dos enterros, as lojas de R$1,99 se beneficiam da pobreza do povo brasileiro, a indústria bélica se beneficia das guerras, e eu me beneficio do aquecimento global.

ECYA: Faz sentido! Mas vamos falar um pouco mais da sua vida. Do que você se alimenta?

Ísssimo: Energia pura. 110 voltz.

ECYA: 220 voltz, nem pensar?

Ísssimo: Nem pensar! Quer me ver morto, rapaz?!

ECYA: Não é isso que eu quis dizer. Era só para ter certeza! Você sente falta do dia ao ar livre?

Ísssimo: Imagine! Nem um pouco. Aliás, eu tenho rodinhas, olha aqui! São belas, não são? Posso me locomover até onde quiser, porque sou do sistema de cano. Aliás, morro de dó e de rir dos ares condicionados que ficam estacionados na parede! Que coisa mais triste! Que coisa mais cômica!

ECYA: Como é essa rixa entre os fixos e os portáteis?

Ísssimo: Eu nem preciso dizer nada. Os fixos são patéticos! Eu teria pena, se não fossem tão arrogantes. Além do mais, eles são aparecidos. Ficam lá no alto, querendo chamar a atenção das pessoas!

ECYA: Não quero entrar no mérito dessa questão. Nunca se sabe quando precisarei de um fixo. Só uma coisa antes de liberá-lo. De onde vem seu sobrenome 13?

Ísssimo: Não é exatamente um sobrenome. Isto remete à numerologia. Antes de sair da fábrica, consultei uma numeróloga, que me disse para acrescentar o 13. Isso aceleraria as vendas. E deu certo!

ECYA: Creio que pudemos conhecê-lo muito melhor. É um prazer tê-lo aqui conosco. Até logo, Ísssimo!

Ísssimo: Até mais. Qualquer coisa, é só pedir, que eu diminuo a temperatura!

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