terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Entrevista com Alê Ferro

Com os fones de ouvido pendurados por dentro da camiseta azul, a fala calma, Alê Ferro nos recebeu para uma entrevista enquanto fazia a nova fachada da loja El Cabriton. Aos 30 anos, há cinco vive só de seus trabalhos como artista. Vai ver é por isso, parece que está sempre pensando. Pensando nas ideias que ainda não teve, nos trabalhos que ainda realizará e, por que não?, nas ideias que já teve. Todas essas ideias têm só uma morada: a cidade. E Alê não sai dela. Pelo contrário: a vive intensamente. Tanto, que só anda de bicicleta!

El Cabriton Y Amigos: Desde quando você desenvolve este trabalho como artista plástico?

Alê Ferro: Eu sou artista plástico, de viver só disso, há cinco anos. Eu fazia grafite quando moleque, fiz faculdade de arquitetura... Mas de viver disso, faz cinco anos, mesmo.

ECYA: Você não precisa trabalhar com outras coisas?

Alê Ferro: Eu só vivo disso. Eventualmente eu faço alguns trabalhos de arquitetura, que é a minha formação. Mas eu vivo disso, sim.

ECYA: Qual é a ideia da fachada da loja?

Alê Ferro: Esse trampo é como se fosse uma historinha. Eu vou contando a historinha aos poucos. A ideia é reproduzir a cidade. Vai ter uns meninos voadores. E a ideia é a foto de um momento... Sabe quando você está passando a alguém te cutuca, e você leva um susto? A ideia é fotografar esse momento.

ECYA: E os seus outros trabalhos?

Alê Ferro: Olha, eu não curtia mais ser tão enquadrado pela polícia. Eu não ficava confortável com isso. Não que deixasse de fazer alguma coisa. No final dava tudo certo. Mas eu não achava isso legal. E comecei a construir minhas próprias paredes. Comecei a trabalhar com o lixo. Os passarinhos, por exemplo, são pedaços de madeira, que seriam lixo. Aí eu usei stickers e pendurei os passarinhos.

ECYA: Como você trabalha com o lixo?

Alê Ferro: O lance com o lixo é o meu grande forte. A ideia é reciclar produtos. A luminária é um exemplo disso. Aquilo seria lixo, se eu não transformasse em luminária. Acho que a nossa geração já está mais esperta com isso. Que a rua é nossa. Que não pode jogar tanto as coisas fora. Por exemplo. Eu ando só de bike.

ECYA: Ah, é? Como é essa história?

Alê Ferro: Eu ando só de bike porque roubaram meu carro. E como o seguro não quis pagar, nunca mais eu andei de carro. E andando de bike, eu sinto mais a cidade.

ECYA: Como funciona a Quitanda Urbana?

Alê Ferro: A Quitanda Urbana é um escritório. É como se fosse um aglomerado de escritórios de uma pessoa só. A Quitanda funciona como uma marca de design urbano. Tem a Ezo, que é sobre grafite. O Celofane Souls é uma banda, um projeto de fazer sons para os desenhos. É como se eu pudesse fazer um cenário urbano feitos de lixo usando técnicos do grafite, stickers, várias coisas. E pudesse até ter músicas.

ECYA: Qual é a ideia das receitas que você prega nos postes?

Alê Ferro: Eu prego as receitas em pontos de ônibus, em banheiros. Cheguei até a colar um na Daslu. Quando é um lugar muito sofisticado como esse, a ideia é colocar uma receita tosca, como um bife à milanesa. Já no ponto de ônibus, é o contrário, uma receita sofisticada. A intenção é a pessoa ver a receita, ficar pensando nela, ou anotando, e perder o ônibus.

ECYA: Como você escolhe as suas camisetas?

Alê Ferro: A maioria, eu mesmo customizo. Curto também usar trampos de outros artistas.

ECYA: Qual é a sua camiseta preferida da El Cabriton?

Alê Ferro: Eu curto muito as de bebê. Andei olhando no site, e vi que vou dar um monte de presente pro pessoal. Eu gosto de várias estampas, com imagem, mesmo, mas não tenho exatamente uma preferida.

ECYA: Quais são as suas maiores influências?

Alê Ferro: O que mais me influencia é a cidade como meu ambiente. A cidade é um prato cheio!

ECYA: Por qual time você torce?

Alê Ferro: Palmeiras!

ECYA: Como você lida com as críticas? Já teve gente falando mal do seu trabalho?

Alê Ferro: Eu acho legal ter crítica, mas não sou muita atenção. Eu nem falo que sou grafiteiro. Sou artista plástico. É para não arrumar uma rixa errada. Meu lance é o de viver a cidade.

ECYA: Onde você mora?

Alê Ferro: Eu moro no Brooklin.

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